'Oh, humilde Humildade! Invoco-lhe agora! Preciso de seu poder! Estou desesperado... sempre tão fraca, tão simples, tão virtuosa – sua potência dissimulada é o que eu preciso!
Como viver sem você!?!? Amplamente requisitada entre os humanos, sejas minha, e teremos todos! Evidencie minha humanidade, pois me julgam por não tê-la... Retribuirei-te com oferendas das mais diversas, vindas de todos os cantos – ou ao menos de todos os que possuem esta humanidade.'
A virtude do fraco, do verme, do humano por excelência! Diria a maior de todas! A virtude do humilde, o enaltecimento da nivelação do homem pela sua mediocridade, 'assim ele fica mais suscetível a nós' – sussurram os humildes pelos cantos...
E qual sua relação com a verdade? 'Do quê estás falando?!?!', um tubérculo me questiona, transtornado com minha posição. Agindo sempre como um cão, sua cabeça não é mais capaz de enxergar acima, mas apenas à frente e aos lados. 'Bem, todos aqui me parecem ter na humildade uma virtude incondicional...' complementa o anoréxico.
Sejas medíocre em tuas potencialidades, porém, se inconformadamente ousares alcançar os céus, não demonstre sem cautela extrema as experiências vivenciadas por lá – serás imediatamente retaliado até que fiques doente como os humanizados. Ouse e viva entre os fortes, estes terão algo de interessante a lhe oferecer – é o que afirmo!
Esta deusa impetuosa, reivindicando todas as conquistas, impõe-se sob uma aparência de fada, vem se mostrar ao ouvido – 'Submeta-se ou serás sufocado até pedir clemência', diz ela, afastando-se novamente com sorriso leve e divindade sublime. Não! Digo-lhe firme, em pé, olhando-a nos olhos.
Libertar-se desta dissimulada em um consenso de ratos e sacerdotes é para poucos. Manter-se erguido e coerente implica em lidar em uma relação de desigualdade com a maioria das pessoas, pois por diversos motivos que não implicam necessariamente em opções, mais provavelmente em condições, o automatismo do cotidiano - necessidade prática - não permite que olhem para cima, e quando olham, a luminosidade tende a ofuscá-los.
Obviamente não falo aqui de toda e qualquer forma de humildade. Falo apenas da humildade como condição para uma relação interpessoal, a humildade como valor incondicional para humanizar o homem. O problema surge quando estes considerados humanizados – adestrados, na realidade - acreditam que já refletiram o suficiente e tentam condicionar o comportamento a esta única verdade possível, onde o que não está de acordo é extremamente nocivo – senão invejável? Afirmo apenas que tenhamos cuidado com algumas ditas virtudes, pois podem estar fundamentadas em sentimentos não tão nobres como o que é comumente oferecido...