Quem sou eu? Três palavras que nunca terão sentido quando constituindo uma frase... A pergunta pressupõe a possibilidade de descobrirmos de maneira absoluta a resposta. Um recuo deste positivismo epistêmico parece ser uma boa estratégia: posso saber quem sou eu? Aqui nos aproximamos mais de uma postura sensata...
Sou o dilema entre tudo o que tenho e o nada que represento. Sou a síntese entre as vontades que me motivam e os obstáculos que encontro para efetivá-las. Sou o que fui, vivenciei, e o que serei. Sou também todos os que conhecí - todos os que foram para mim e em mim na minha vida. Sou a melhor interpretação que conseguí extrair daquilo que se apresentou para mim, sou muito mais que isso e também muito menos...
Sou o constante espernear de uma ave no ninho. Sou também a caça e o caçador. Sou o medo da morte, a vontade de morrer e a afirmação da vida. Sou o obstáculo para os conservadores e a solução para todos os problemas. Porém, mais evidente que tudo: sou a sede de realização!
Aqui, não me distínguo de meus inimigos. Esta é a ironia com a qual convivo! Se por um lado, minhas vontades se manifestam na busca e na exigência do respeito às massas e ao indivíduo, por outro meus inimigos defendem suas vontades e exigem que tudo permaneça como está. Não há hierarquia aqui, mas somente seres autômatos em um planeta isolado defendendo suas perspectivas de realização antes que a morte chegue. Eis a redução do mártir a um garoto mimado... Eis também a introdução da beleza como valor antropológico - não está aqui resumido todo o romance?
A auto-afirmação diante de uma platéia desatenta é o que gera o escarro! A rabujisse e a insanidade já não parecem estar mais tão distantes... "Adapte-se e sobreviva!" diz meu amante e cúmplice, raivoso por perceber minha miséria e não me desejar o destino que escolhí (?). "Adapto-me e morrerei agora!" digo-lhe com suor no rosto enquanto quebro mais uma pedra com meu martelo. Não estaremos todos em uma situação de miséria? Entre o que acredito que sou e o que represento, fico com a primeira, mas não posso julgar quem se relaciona com a segunda - é realmente tentadora! Como uma vadia, a tentação pelo conforto e prazer imediatos pode nos fazer perdermos de vista aquele que gostaríamos de ser, mas também descobrirmos que o que pensávamos que éramos era um erro - temos aqui a necessidade da experiência!
Ah, sim... Nada como a experiência! A tentativa de descobrirmos um pouco mais sobre nós mesmos... Isto deve ser uma consequência e não o motivo! Agregando evidências, descobrimos o que somos e o que não somos, e este é o jogo da vida! Até a morte, vivendo e aprendendo sobre o que aceito e o que não aceito. Eis aqui o que penso que sou e o que sei que não sou. Eis aqui a mentira do meu consciente reduzida a letras com algum sentido... Eis aqui a maior de todas as prepotências... Eis aqui a minha contradição...
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