Esses dias acordei com uma vontade de me suicidar... Não era como cotidianamente acontece, uma mera hipótese – era desejo! Um desejo que me despertou um ar agradável e fresco nas narinas somado a adrenalina de um salto sem paraquedas pela janela do quarto andar, onde está meu quarto. Realmente tentador...
A situação onde me encontrei exigiu uma resposta. Não uma resposta para o suicídio como questão universal, mas apenas o suicídio na minha questão: vale ou não?
Uma das hipóteses que levantei logo de início foi a de que eu precisava significar o suicídio para pensar nele com mais clareza. Neste sentido, identifiquei um equívoco entre minha concepção de morte e de sono. Meu prazer em estar dormindo estava situado apenas como uma questão de grau: a morte é o sono eterno... Grande erro! Um resquício de efermidade cristã contaminando meu pensamento... O prazer em dormir só é identificado ao acordar. Esta é a sutileza da questão!
O desconforto da realidade vai impregnando a mente logo no despertar, levando à concepção de que o “sono eterno” seria mais agradável, porém o fato é que a morte é a coisificação do ser: tornar-me-ia um bife! Aliás, muito menos que carne, pois isto já me aproxima demais da realidade... O eu que conheço e o que sou se nadificaria! Isto vai para muito além de um “repouso eterno”...
Logo depois desta conclusão, refleti que terei tempo o bastante para morrer – não há dúvidas de que algum dia morrerei, pra que apressar as coisas desta maneira? A morte se aproxima e esta é uma certeza! Não há como não passar por isto... Não preciso ser ansioso com o que é inevitável.
Fica, para o lado da conclusão oposta, o ato simbólico de negação radical do mundo como se apresenta. Porém esta também me parece falaciosa, pois só terá significado para os que ainda vivem, estando relacionada aí a tentação de ser compreendido em minha essência, o grito final de Jeremy, porém aí já não me importaria mais...
Estas não são conclusões universais. Vejo razões para o suicídio, apenas não o meu. Vejo beleza naqueles que o exercem, só lamento que eu não possa cumprimentá-los por seu forte e simbólico ato... E esta é, para mim, a questão.
Não tenho certeza se não realizo esta fantasia por fraqueza ou se por estas reflexões. Porém, se me perguntassem “por que você não?”, diria isto. O que me parece é que tentaria muitas formas de vida autodestrutivas se chegasse à conclusão de que ela está se posicionando entre mim e minha realização como ser, antes de me atirar de um prédio sem paraquedas...